Foto: Arquivo pessoal
Fernanda Unser
Fernanda é psicóloga especialista em pacientes oncológicos, e assim como as demais mulheres dessa reportagem, também enfrenta os desafios do tratamento, mas diferente das demais ela está do lado dos profissionais que acompanham os pacientes nessa difícil jornada.
Lidando com a oncologia
Fernanda Unser é psicóloga desde 2016, após sua formação pela Universidade do Oeste de Santa Catarina campus São Miguel do Oeste, entrou para a pós-graduação no programa de Residência Multiprofissional em Oncologia. Seu estudo teve duração de 2 anos, no Hospital de Chapecó, onde adquiriu a especialização em Oncologia (Câncer). Posteriormente, fez seu mestrado em Biociência e Saúde, atuando por vários anos em um Hospital Geral e lidando com diferentes aspectos como questões de adoecimento, finitude, morte e nascimento. Também já foi voluntária da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Maravilha - SC, trabalhou no CRAS na área de Psicologia Social e, atualmente, atua como Psicóloga Clínica na cidade de Maravilha, além de realizar atendimentos online.
Em seu trabalho lidando com pacientes oncológicos, a psicóloga utiliza da abordagem chamada Terapia Cognitivo-Comportamental. Seu trabalho abrange desde o atendimento a um paciente que está em suspeita de câncer, quanto aquele que já está em tratamento pela doença. Dessa forma, o trabalho psicológico de Fernanda se encontra em vários momentos na necessidade de lidar com várias formas de tratamento e de diálogo com o paciente, dependendo da situação.
Em um primeiro aspecto, relacionado ao paciente que está para descobrir um câncer e quando há a confirmação do diagnóstico, há uma forma de diálogo focada nos pensamentos e incertezas sobre o futuro, também relacionado a finitude da vida, além de outras limitações relacionadas a internações e rotina de um paciente oncológico. Entretanto, a auto estima também é algo a ser discutido em muitos momentos nas consultas psicológicas desses pacientes, principalmente em mulheres, quando pensamos na possível queda do cabelo e nas mudanças estéticas que o tratamento pode causar. “Há todo um cunho social, de auto estima, auto imagem, toda uma readaptação física, emocional e social frente a esse tratamento”, diz Fernanda, com relação a mastectomia (retirada total ou parcial da mama).
A psicoterapia nestes momentos se torna um espaço para que a mulher tenha o apoio necessário, diante de toda a sua vivência e consequências do tratamento. A psicóloga pontua ainda, a existência do suporte do Sistema Único de Saúde (SUS), diante de pacientes que precisam fazer a retirada da mama, disponibilizando o implante de próteses mamárias para essas mulheres, em determinados casos, e contribuindo para uma significativa melhora e cuidado em sua autoestima.
Um ponto importante que a psicóloga traz sobre o tratamento psicológico à pacientes oncológicos é a atenção voltada também para seus familiares, visto que com a mudança, há novas adaptações e responsabilidades a serem feitas e, a ajuda terapêutica, também é algo que vem para auxiliar quem é próximo de uma pessoa com câncer, nesse momento. Ou seja, o acompanhamento não é voltado apenas para o paciente, mas para a rede de apoio, juntamente.
Casos como o abandono dos parceiros à mulheres que descobrem o câncer, infelizmente, são frequentes, e mostram como o câncer pode afetar a auto estima da mulher frente a várias áreas de sua vida, por exemplo, nas relações conjugais e até mesmo em outras relações próximas. Situações como essa causam reações nessas pacientes, surgindo nelas sentimentos como solidão e desamparo, além do abalo à autoestima. É nesses momentos, também, em que a psicoterapia possui seu papel de trazer conforto e apoio a essas mulheres. Relacionado às queixas das pacientes oncológicas, relatadas pela Fernanda, principalmente em casos como o câncer de mama, as reações visuais presentes na estética da mulher como a alopecia é uma delas, visto que é algo visível para a sociedade e que, muitas vezes, identifica uma doença e acaba se tornando um estigma social.
Receber olhares que, por muitas vezes, carregam um sentimento de pena, são desconfortáveis para essas mulheres e é algo que pode mexer com a autoestima e pesar o emocional. “Falar que ‘é só um cabelo’, mas pra pessoa tem muita importância e tem um impacto significativo”, ressalta Fernanda, com relação às atitudes de desvalorização de algumas pessoas, diante do sentimento da mulher com câncer ao perder seu cabelo. Retirar a mama também tem um peso estético para a mulher, é algo que causa uma reação emocional, na qual, deve ser respeitada e a compreensão nesses momentos é essencial. Além disso, as dores físicas também abalam o emocional dessas pacientes, privando-as em muitos momentos de socializar, festejar, sair, algo que a longo prazo pode interferir em sua autoestima.